08 junho 2017

normalidade

Vinha no Spiegel (e no facebook, aqui e aqui): uma mulher irritou-se com o conteúdo de um texto dos trabalhos escolares da filha de seis anos, e reescreveu-o.

Admito que alguém venha protestar contra "a brigada do politicamente correcto, que até os mais inócuos textos de escola quer criticar e alterar" e "até parece que não temos problemas mais importantes para resolver". 

Pergunto: que ideia de normalidade queremos passar às nossas crianças? A normalidade do texto original, ou a do texto corrigido?

Responderão: "Pois é, mas como quase nenhum pai assume os seus deveres de educador, ao apresentar o segundo texto vai-se dar à maior parte das crianças a sensação de que a sua família está errada."

Pois é... de facto, essa não me tinha ocorrido. Então está bem: tendo em conta o superior interesse da criança, o primeiro texto é o melhor, porque impede a criança de perceber que o pai lhe está a falhar, e deita a culpa para a mãe. Como culpar a mãe está em sintonia com o procedimento habitual da sociedade, a criança não estranha e, pelo contrário, sente que na escola estão atentos aos motivos da sua tristeza. Que pena a minha filha já não estar em idade de frequentar a escola primária, era mesmo esta a escola que devia frequentar: sempre se ia preparando melhor para o que se espera dela quando for mãe.

(Joga pedra na Geni! / Joga bosta na Geni! / Ela é feita pra apanhar! / Ela é boa de cuspir!)





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