15 maio 2017

vida de cão em Berlim


Esta manhã saí bem cedo para estar no Berliner Ensemble à hora a que abria a bilheteira para o próximo mês. Queria ir comprar bilhetes para o 33º e último show da Nina Hagen de homenagem a Brecht, no dia 3 de Junho.

Levei o Fox, e durante a viagem tentei fotografá-lo no retrovisor em pose de intelectual, com a mão a segurar o queixo. Não correu muito bem, como podem ver pelas várias tentativas:



  



 (Esta última fotografia é dedicada à Rita Dantas: castanheiros em flor)



Oito da manhã, e a fila da bilheteira do teatro já estava bem comprida. O Fox deitou-se no chão e ficou a observar o pessoal. E o pessoal ficou a observar o Fox. Uma senhora perguntou-me se ia comprar bilhetes também para ele, e eu disse que não, que ele ainda não tinha idade para compreender Brecht. Ela riu-se, e disse que também não comprava para a cadela dela porque era um bicho muito musical, e gostava de acompanhar as melodias.  


Muitas das pessoas que ali estavam mostravam o cartão da Segurança Social para ter redução do preço. E traziam o folheto do mês de Junho cheio de círculos: Baal, Mutter Courage, Nathan der Weise, Hamlet, Schwarze Milch der Frühe...
Uma senhora sentou-se a ler atentamente um livro que trouxe da Staatsbibliothek. Era sobre Economia Solidária.

Por uns momentos imaginei Brecht ali, a sentir-se contente pela corrida à bilheteira às oito da manhã, pelo ar simples e tranquilo daquelas pessoas, pelos folhetos cheios de anotações.



Consegui bilhetes para bons lugares. E até pude comprar com redução para os miúdos, apesar de não ter comigo os seus cartões de estudante. Ficaram na bilheteira, com os respectivos nomes, para serem levantados no próprio dia mostrando o cartão. Quem diria que os alemães conseguem esta flexibilidade tão bem organizada?

Depois fui comprar croissants para o pequeno-almoço de uns amigos que por estes dias estão por cá, e tratei de ir para casa depressinha. Pobre Fox: andou duas horas a sofrer o suplício de Tântalo - tantos sítios novos para farejar, e eu sempre a chamar, vamos embora, vamos embora, estamos atrasados. Mas pelo menos não o obriguei a andar para trás e para a frente sobre as sombras das vedações dos vizinhos, como fiz na semana passada. Cão sofre...


 




4 comentários:

Filipa disse...

http://portalconservador.com/para-integrar-islamicos-vamos-destruir-igrejas-cristas-e-construir-mesquitas-propoe-arquiteto-alemao/

Isto anda pelo facebook. Cheira-me a fake news.

Helena Araújo disse...

Usaram as palavras do arquitecto para fazer um discurso como lhes dava mais jeito.
Pus lá um comentário:

O original da entrevista está aqui:
http://www.taz.de/!5313826/
Era bom que explicassem claramente que são os próprios responsáveis das Igrejas cristãs que decidem destruir os edifícios que estão abandonados por falta de comparência dos fiéis. Ninguém está a expulsar cristãos para dar lugar a muçulmanos. As igrejas cristãs que vão ser demolidas estão pura e simplesmente às moscas. Só na região Hamburg-Ost foram identificadas 50 igrejas sem uso ("Der Kirchenkreis Hamburg-Ost schätzt, dass von den 160 Kirchen ein Drittel aufgegeben werden muss. Also hat man rein theoretisch 50 Standorte.")
Gostava de saber como é que conseguiram escrever o título bombástico " "vamos destruir igrejas cristâs e construir mesquitas"" apesar de ele ter dito "Wenn Kirchen umgenutzt werden, finde ich das problematisch. Das Modell der Kapernaumkirche, die als Al-Nour-Moschee genutzt wird, sollte eine Ausnahme bleiben. Dass aber Kirchen, die von Gemeinden aufgeben werden, abgerissen werden, finde ich hinnehmbar. Am besten wäre es, dort mit den Kirchengemeinden Moscheestandorte zu entwickeln. "

Filipa disse...

Obrigada :)! É que o meu alemão é nulo e jamais conseguiria confirmar por mim mesma.

Goldfish disse...

O Fox é lindo! :)